O LIMITE DA GLÓRIA — Vincent Cheung



Visto que nos foi deixada a promessa de entrarmos no descanso de Deus, temamos que algum de vocês pense que tenha falhado. Pois as boas novas foram pregadas também a nós, tanto quanto a eles; mas a mensagem que eles ouviram de nada lhes valeu, pois não foi acompanhada de fé por aqueles que a ouviram. (Hebreus 4:1-2)

Abraão

Deus chamou Moisés para liderar seu povo para fora do Egito com “poderosa mão” (Êxodo 3:19-20). O Senhor mostraria seu poder com milagres e lutaria contra os egípcios com sinais e maravilhas. Mas, para falar sobre Moisés, devemos primeiro aprender sobre Abraão. Como assinalei em vários outros lugares, a principal base para os milagres é a revelação existente, até mesmo a revelação antiga, e não a nova revelação. A nova revelação pode ser uma razão adicional para realizar milagres, mas é uma razão secundária e temporária. A revelação antiga é a base principal e contínua para milagres.

Deus iniciou sua missão de resgate e realizou milagres com base em sua aliança com Abraão (Êxodo 2:24). Como ele fez isso com base em uma revelação existente, ele teria realizado milagres mesmo que não tivesse uma nova revelação para acrescentar à existente. Ele teria realizado os milagres para manter sua palavra a Abraão e não para autenticar novas informações. Ele enviou Jesus para realizar milagres e fazer expiação também com base em sua aliança com Abraão (Lucas 1:73). Jesus disse que ele curou uma mulher sob o fato de que ela era uma herdeira de Abraão (Lucas 13:16). De fato, ele colocou todo o seu ministério de milagres nesta base (Mateus 15:24, 26).

Houve algumas pessoas ficaram fora da aliança, mas mesmo assim receberam seus milagres pela fé (Mateus 15:27-28), porque a fé sempre tem acesso direto a Deus. Pela fé, pode-se desconsiderar seu lugar na história redentora e receber de Deus tudo o que quiser. Pela fé, é sempre o momento certo, porque Deus aceita a fé a qualquer momento no desdobramento do seu plano. Se devemos falar em termos da aliança, então a Bíblia também mostra que os filhos da fé são de fato os verdadeiros filhos de Abraão. Eles são os verdadeiros herdeiros da aliança (Gálatas 3:7, 14). Por esta razão, Jesus disse que aqueles que pareciam estar de fora poderiam ser aceitos, mas aqueles que pareciam estar dentro poderiam acabar sendo expulsos (Mateus 8:11-12).

Os termos da aliança nunca mudaram. Aqueles que têm fé são os verdadeiros herdeiros de Abraão, e Deus ainda fará milagres para manter sua palavra. Assim, no mesmo contexto, a Bíblia diz que Deus dá o Espírito e opera milagres entre os que têm fé (Gálatas 3:2, 5). Isso está diretamente associado à antiga revelação a Abraão (Gálatas 3:7, 14) e não à nova revelação de Jesus ou dos apóstolos. Os milagres não aconteceram apenas porque houve nova revelação, de modo que os milagres não cessariam apenas porque a nova revelação foi concluída. A única maneira pela qual os milagres cessariam é se Deus deixar de manter sua palavra a Abraão, isto é, se Deus quebrar sua aliança. Essa é a blasfêmia do cessacionismo.

Além disso, o cumprimento desta aliança não se aplica apenas em um sentido geral ou corporativo aos filhos de Abraão, mas deve ser cumprido a indivíduos específicos, de modo que cada pessoa que tenha fé deve esperar receber as bênçãos prometidas. Jesus curou uma mulher em particular, afirmando que ela tinha direito à cura porque era filha de Abraão (Lucas 13:16). Paulo fez questão de aplicar a aliança aos indivíduos para abordar o que parecia ser uma falta de cumprimento no nível corporativo (Romanos 9). Os cristãos não pensariam que Deus está cumprindo sua palavra se as pessoas que têm fé estão sendo salvas, que apenas algumas delas são salvas, mas nem todo indivíduo que tem fé é salvo. Eles insistiriam que todo indivíduo que tem fé é salvo sob os termos da aliança, e se um indivíduo não é salvo, ele não tem fé. A cura e vários tipos de milagres também estão incluídos na aliança sob os mesmos termos, por isso é inaceitável se contentar com um cumprimento geral. Deve haver uma ênfase nos indivíduos.

Embora os propósitos e benefícios de Deus pareçam tão intimamente relacionados a Abraão, isso não é porque Abraão era alguém grande em si mesmo. Deus soberanamente escolheu Abraão para que as promessas divinas pudessem ser instaladas na terra. Durante a cerimônia da aliança, Deus pôs Abraão para dormir e caminhou sozinho por entre os pedaços dos animais (Gênesis 15:12, 17). Imagine uma cerimônia de casamento em que você anda pelo corredor sozinho, e você jura amor, companheirismo, fidelidade e proteção para o seu parceiro, para sempre. Não há troca de votos, mas apenas uma promessa sua para a outra pessoa. Claro, se é um casamento genuíno, seria uma aliança e seu parceiro teria que mantê-la. Mas, na confirmação da aliança, você assume toda a responsabilidade do casamento sobre seus próprios ombros.

Deus fez uma aliança com Abraão, mas realizou a cerimônia sozinho. Abraão não andou por entre os animais que foram cortados em pedaços para simbolizar a maldição que cairia sobre aquele que quebraria a aliança. Deus fez as promessas. Deus assumiu a maldição. Abraão estava dormindo. Houve mesmo uma maldição sobre o fim da aliança de Abraão? E pela fé em Jesus Cristo, estamos unidos a esta aliança. É claro que Deus esperava que Abraão cumprisse a aliança (Gênesis 17:9), e aqueles que se recusassem a participar seriam extirpados (Gênesis 17:14). Ainda assim, a realização da aliança em si era unilateral. Era como se Deus estivesse dando uma aliança a Abraão mais do que fazer uma aliança com ele. A maldição da lei veio 430 anos depois, sob Moisés (Gálatas 3:17). Foi um acréscimo, não um substituto. Depois disso, Jesus absorveria toda a força dessa maldição. Não há maldição em Cristo (Gálatas 3:13, Romanos 8:1-2).

Deus até mesmo preparou seu próprio sacrifício. Abraão não foi obrigado a sacrificar seu filho a Deus para que Deus sacrificasse seu Filho pela humanidade. Bastou que Abraão estivesse disposto a fazê-lo, que ele não considerasse nada mais importante que seu amigo da aliança. Deus foi quem lhe deu Isaque, em primeiro lugar. Tudo o que ele tinha veio de Deus, incluindo sua posição espiritual. Deus queria que Abraão andasse com ele, mas eles não dividiram a conta. Deus pagou por tudo. Portanto, nunca foi realmente sobre Abraão, mas sobre Deus e o que ele faria por Jesus Cristo. Assim, João Batista disse que Deus poderia fazer filhos de Abraão das rochas se ele quisesse (Mateus 3:9). Ninguém jamais fez um sacrifício que pudesse apaziguar a Deus. Ele fez um sacrifício por Jesus Cristo para apaziguar a si mesmo e para nosso benefício.

Moisés

Deus apareceu a Moisés e enviou-o para enfrentar Faraó. Embora Faraó resistisse, Deus estava no controle. Era hora de Deus surpreender todas as nações destruindo a superpotência do mundo — sem espadas ou soldados, mas apenas com palavras e maravilhas. Ele queria lembrar a humanidade que ele não era como todos os ídolos que eles adoravam. Ele era o único Deus, “Majestoso em santidade, terrível em feitos gloriosos, autor de maravilhas” (Êxodo 15:11). Isso também prepararia o caminho para seu povo enquanto se moviam em direção a Canaã. Os cristãos pensam que Deus quer algo diferente hoje (Atos 5:5, 19:17)?

Faraó teria se rendido muito facilmente. Mas ele resistiu, porque uma e outra vez, Deus endureceu seu coração mesmo quando estava prestes a desistir (Êxodo 8:15, 8:32, 9:12, 9:34, 10:1, 10:20, 10:27, 11:10, 14:8; Romanos 9:17). Ele explicou a Moisés: “Vá ao faraó, pois tornei obstinado o coração dele e o de seus conselheiros, a fim de realizar estes meus prodígios entre eles, para que você possa contar a seus filhos e netos como zombei dos egípcios e como realizei meus milagres entre eles. Assim vocês saberão que eu sou o SENHOR” (Êxodo 10:1-2). Deus derrotou Faraó e continuou batendo na face dele, e não permitiu que ele se rendesse. Ele tinha uma lista de pragas para percorrer e se recusou a ser interrompido.

Deus fez tudo sozinho. O povo de Israel não lutou contra o Egito. Eles eram passivos. Nem mesmo Moisés precisou pegar a espada. Ele só transmitia as mensagens de Deus e, quando Deus o instruía, ele apontava sua vara para cá, ou para lá, ou a colocava no rio, e assim por diante. Moisés não lutou. Israel não lutou. O significado ficará mais claro depois.

As pragas culminaram na Páscoa. Uma formulação padrão da doutrina da eleição é que Deus “passa por cima” dos réprobos para salvar os escolhidos. Isso é o oposto do que aconteceu no Egito. Deus não passou sobre os egípcios para salvar os israelitas, mas passou sobre os israelitas para matar os egípcios. Paulo escreveu que Deus formou os salvos e os condenados “do mesmo barro” (Romanos 9:21). Deus decide a qual grupo cada pessoa pertence. Tanto a eleição quanto a reprovação estão ativas.

Então Israel saiu do Egito. Eles foram libertados da escravidão. Eram homens e mulheres livres. Eles seguiram Moisés, que eventualmente teve setenta anciãos para auxiliá-lo (Números 11:16-17). Agora, eles entraram no modo de sobrevivência. Deus cuidou de suas necessidades básicas. Ele deu-lhes mais do que suficiente, mas não uma abundância transbordante. A abundância transbordante estava esperando por eles além do Jordão.

Israel

Do deserto de Parã, Moisés enviou homens para explorar a terra de Canaã (Números 13). Era uma missão de reconhecimento na terra que eles deveriam conquistar dos habitantes existentes. De cada tribo foi enviado um dos seus líderes. Eles voltaram depois de quarenta dias para mostrar o relatório.

Eles anunciaram: “Dela manam leite e mel!”. Era uma excelente propriedade. No entanto, eles acrescentaram, as pessoas ali eram muito fortes e as cidades fortificadas. Calebe viu o que estava acontecendo, e então ele silenciou o povo e disse: “Devemos subir e tomar posse da terra, pois certamente podemos fazê-lo”. Mas os outros líderes replicaram: “Não podemos atacar aquele povo; é mais forte do que nós… parecíamos gafanhotos, a nós e a eles”. Eles avaliaram a situação de acordo com a aparência dela e como pareciam para os outros. Eles andaram pela vista. A Bíblia diz que eles espalharam “um relatório negativo” entre os israelitas. Eles estavam com medo e não queriam invadir a terra.

As pessoas foram convencidas pelo relatório negativo, e eles se rebelaram contra Moisés (Números 14). Eles disseram que Deus os trouxe lá apenas para deixá-los morrer à espada, e que eles estariam melhor se tivessem ficado no Egito. Josué e Calebe fizeram outro apelo ao povo: “Somente não sejam rebeldes contra o SENHOR. E não tenham medo do povo da terra, porque nós os devoraremos como se fossem pão. A proteção deles se foi, mas o SENHOR está conosco. Não tenham medo deles!” (Números 14:9). As pessoas endureceram seus corações em incredulidade e falavam sobre apedrejá-los.

Aqui estavam os dois lados. Eles tinham as mesmas promessas divinas e enfrentavam as mesmas circunstâncias. Um lado andou pela vista e deu um relatório negativo. Embora Deus tenha prometido a terra para eles, porque eles viam os guerreiros fortes e as cidades fortificadas, eles disseram: “Não, nós não podemos tomá-la”. O outro lado andou pela fé e deu um relatório positivo. Visto que Deus lhes prometeu a terra, embora eles vissem os mesmos fortes guerreiros e cidades fortificadas, eles disseram: “Sim, nós podemos tomá-la”. A fé sempre tem um relatório positivo, porque a fé não anda pela vista. A fé sempre fala e se comporta de acordo com as promessas de Deus e do ponto de vista do poder e da vitória. A fé sempre tem um grito de triunfo.

Então Deus apareceu e anunciou seu veredicto: “Cairão neste deserto os cadáveres de todos vocês, de vinte anos para cima, que foram contados no recenseamento e que se queixaram contra mim. Nenhum de vocês entrará na terra que, com mão levantada, jurei dar-lhes para sua habitação, exceto Calebe, filho de Jefoné, e Josué, filho de Num” (Números 14:29-30). Deus os deixou apodrecerem no deserto. Ele os fez vagar por quarenta anos até que toda essa geração morresse — exceto Calebe e Josué. É por isso que devemos enfatizar a espiritualidade individual. A fé de um em um milhão não apenas permitirá que um homem desfrute das bênçãos de Deus em um mundo de incredulidade, mas mesmo que a geração atual se perca, essa fé se traduzirá em orientação para a próxima geração. Nos outros dez líderes, eles tinham espiritualidade corporativa e arruinaram a nação inteira por quarenta anos. A espiritualidade corporativa é pior do que inútil se as pessoas estão espalhando “relatórios negativos” em todo o lugar. De que adianta se as pessoas se reúnem apenas para que Deus as deixe morrer em sua incredulidade? A espiritualidade corporativa só serve ao propósito pretendido se combinar indivíduos que são movidos por uma fé indomável.

As pessoas entraram em pânico e disseram que iriam tomar a terra. Foi uma tristeza mundana que levou à morte (2 Coríntios 7:10). Moisés advertiu que Deus já não iria ajudá-los, mas eles foram mesmo assim. Depois de rejeitar as promessas de Deus, eles tentaram obter os mesmos benefícios por sua própria força e foram derrotados (Números 14:39-45). Esta é um retrato da igreja. Os cristãos rejeitaram as promessas de Deus e o poder do Espírito que lhes daria a vitória. Quando sua incredulidade desgasta suas vidas e sociedades, eles tentam obter os mesmos benefícios por sua própria força. Eles recorrem à sua política, economia e todos os tipos de esforços e esquemas. E eles são derrotados. Eles o chamam de mandato cultural, mas é seu substituto para a Grande Comissão, o planejamento sobrenatural que eles rejeitaram (Mateus 28:18-20; Marcos 16:15-18; Lucas 24:46; João 14:12-14; Atos 1:8).

Josué

Não devemos reclamar que demoramos muito para chegar ao Jordão. Josué teve que esperar quarenta anos. A essa altura, Josué havia se tornado o líder de Israel, e Calebe era um dos generais.

A natureza do mandato de Josué era diferente da que Moisés recebeu. Foi uma segunda etapa da experiência de Israel distinta e subsequente de sua libertação da escravidão. Foi planejada para ser tomada logo após o êxodo, mas foi adiada por causa da incredulidade deles. Na época da libertação, Deus travou todos os combates. As pessoas eram passivas. Neste momento de posse, eles lutariam para aproveitar o que Deus havia prometido. Agora, haveria plena participação do povo. Eles seriam cooperadores de Deus (1 Coríntios 3:9). Sua vitória foi garantida, mas eles teriam que lutar. A terra já pertencia a eles, mas teriam que conquistá-la.

O primeira etapa foi a libertação de seus mestres no Egito. A segunda etapa foi o despejo de seus inimigos de Canaã. Eles não escapariam, mas estariam atacando. Sob a liderança de Josué, o povo teria que lutar. Não foi para libertar seus amigos, mas para exterminar seus inimigos. Eles não lutariam pela sobrevivência, mas pela prosperidade. De fato, esta foi a razão pela qual eles foram tirados do Egito em primeiro lugar (Êxodo 3:8). Liberdade nunca foi o fim final. Eles tomariam posse das promessas de Deus, do “leite e mel”.

A experiência cristã espelha a história de Israel. Se atravessar o Mar Vermelho era como batismo em Cristo pela liberdade (1 Coríntios 10:2), então a experiência distinta e subsequente de atravessar o Jordão poderia ser tomada como batismo com o poder do Espírito Santo (Atos 8:14-16, 19:1-2). Séculos depois, João Batista anunciou no Jordão: “Ele vos batizará com o Espírito Santo” (Mateus 3:11, Atos 1:8). Isso não é mais sobre a salvação em termos do perdão do pecado. O sangue do cordeiro foi aplicado no Egito. E não se trata mais de manter uma vida autossuficiente ou a santificação individual. Eles viveram nessa condição suficiente por quarenta anos no deserto. A salvação, neste sentido, nunca foi planejada como o fim em si mesmo.

Portanto, no primeiro sermão de Pedro, ou no primeiro manifesto apostólico, ele fez crer no próprio Cristo como apenas um passo necessário para receber o dom do Espírito Santo (Atos 2:38). E para ele o Espírito Santo referiu-se aos poderes miraculosos e proféticos para a plena participação do povo de Deus: “Derramarei o meu Espírito sobre todas as pessoas” (Atos 2:16-18, Lucas 24:49, Atos 1:8). Todo o povo de Deus teria o Espírito (Números 11:29). Todo o povo de Deus teria o poder de falar e o poder de agir. Este não é um poder ético, mas um poder missional.

Jesus

O evangelho que foi pregado por Jesus e pelos apóstolos era o mesmo evangelho que havia sido pregado a Abraão, a Moisés, a Josué e a Israel (Gálatas 3:8; Hebreus 4:2; Lucas 24:27; 1 Pedro 1:10-12). Temos recebido do mesmo evangelho.

Em primeiro lugar, Jesus anunciou sua mensagem com sinais e maravilhas (Atos 2:22), assim como Moisés confrontou Faraó poderosamente. Depois, ele derramou seu sangue como nossa verdadeira Páscoa, e sacrificou-se para salvar seu povo (1 Coríntios 5:7). Ele disse que aqueles que não cressem já estavam condenados (João 3:18). Assim, Deus passou apenas sobre aqueles nos quais havia sido aplicado o sangue, como no tempo de Moisés. E como no Êxodo, Deus foi o único que trabalhou. Seu povo esteve passivo, e não contribuiu em nada para se salvar. Jesus lutou por eles, e eles não tiveram que lutar. Diante disso, a fase de libertação estava completa. Seu povo não seria escravo por mais tempo, mas sim homens e mulheres livres.

No entanto, antes de voltar para o Pai, Jesus disse que haveria mais uma etapa na experiência cristã. Quando Moisés partiu, Josué se tornou o líder. Da mesma forma, quando Jesus subiu, ele enviou “outro Consolador” para conduzir o seu povo (João 14:16; 14:26; 15:26; 16:7). Ele disse que, quando o Espírito de Deus viesse, eles iriam receber poder, e seriam suas testemunhas em todas as nações (Atos 1:8). Ele disse que seu povo seria cheio do Espírito de Deus para receber discernimento e poder (João 14:16-17, 16:13-15; Lucas 24:49; Atos 1:8). Ele disse que qualquer um que tivesse fé nele poderia executar as mesmas obras que ele havia feito, e obras ainda maiores (João 14:12). Assim, essa próxima fase seria o palco da missão, a etapa da posse das promessas de Deus, a fase da expulsão dos nossos inimigos (Mateus 28:18-20). Como no tempo de Josué, seria um momento de conquista. Haveria plena participação do povo de Deus (Atos 2:17-18, 1 Coríntios 12:14-25, 14:26).

Paulo descreveu a vida cristã como um tempo de guerra (2 Coríntios 10:4). Nós não estamos lutando para alcançar a salvação. Cristo nos libertou do Egito. Somos homens e mulheres livres. Não somos mais escravos do pecado. E a ira de Deus saiu de sobre nós há muito tempo. Glória a Deus! Hoje nós lutamos, mas lutamos como homens e mulheres livres. Não é uma luta de libertação. Cristo sozinho lutou e conseguiu isso para nós. Esta é uma luta de despejo, uma luta para expulsar o inimigo, para conquistar a terra, e para possuir o que Deus nos prometeu. E estas são as promessas que se aplicam a nós depois que fomos libertados do pecado.

Paulo escreveu que não guerreamos como o mundo, mas que nós empregamos as armas do poder divino para destruir fortalezas. Certamente, nunca iremos usar da violência para disseminar o evangelho. Queremos ganhar os corações dos homens para Cristo, e a violência só pode coagir a carne, mas não poderá mudar o coração. Nós não guerreamos como o mundo. Nós iremos usar as armas espirituais da oração e da persuasão, das palavras e das maravilhas. Isso irá destruir as fortalezas de Satanás e estabelecer o Reino de Deus nos corações dos homens (Atos 4:29,31, 8:5-8, 19:17-20).

Hoje

A Carta aos Hebreus foi escrita para os cristãos, ou para aqueles que se chamavam cristãos. O escritor não convida as pessoas para saírem do Egito. Supostamente, eles teriam feito isso já algum tempo (Hebreus 5:12). Ele lhes está convidando para avançarem na fé.

Ele quer aplicar o cenário de Josué aos cristãos. Para fazer isso, ele se refere ao Salmo 95, onde o Espírito Santo diz: “Hoje… não endureçais os vossos corações, como fizestes na rebelião”. O Salmo faz alusão à vários incidentes, mas eles culminam com a revolta em Parã, porque o escritor diz que ele têm em mente aqueles que Deus jurou que nunca entrariam no seu descanso (Hebreus 3:18), que ocorreu quando as pessoas creram no relatório negativo de seus líderes (Números 14:28-30). Depois, ele indica qual é o período em que ele nos exorta a “encorajar uns aos outros todos os dias”, e o período é chamado de “Hoje” (Hebreus 3:13). Portanto, o incidente de Parã se aplica aos cristãos nessa vida. Aqui isso não foi usado para convidar as pessoas a crerem em Jesus, ou para se referir ao Céu, mas para falar sobre uma vida de promessas que os cristãos entram nessa vida, após a conversão e antes do Céu.

Que lições podemos extrair de Parã?

Em primeiro lugar, Parã nos lembra que há dois tipos de sofrimento. Há um tipo de sofrimento que ocorre quando se tem fé. Jesus disse que o mundo odeia os cristãos, porque odiou a ele primeiro. Deus nos escolheu e nos tirou do mundo, e aqueles que odeiam a Deus também irão odiar aqueles que pertencem a ele. Então, eles irão querer dar aos crentes momentos difíceis (João 15:18-19).

A Bíblia tem algumas coisas boas a dizer sobre aqueles que enfrentam esse tipo de sofrimento com fé e alegria. Jesus disse: “Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês. Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês” (Mateus 5:11-12). Da mesma forma, Pedro escreveu: “Se vocês são insultados por causa do nome de Cristo, felizes são vocês, pois o Espírito da glória, o Espírito de Deus, repousa sobre vocês” (1 Pedro 4:14). Que coisa maravilhosa é ter o Espírito da glória repousando sobre você! Não há nada que se iguale a isso. Assim, quando lembramos os cristãos sobre as preciosas promessas que possuímos em Jesus Cristo, não negamos que há um tipo legítimo de sofrimento que eles podem enfrentar. Este tipo de sofrimento não acontece porque eles fizeram algo de errado, mas porque eles têm feito o que é certo.

O que condenamos é a teologia desonesta que atribui demasiadamente casos de sofrimento à esta categoria. Esse é o tipo de sofrimento que a maioria das pessoas gostaria de pensar que estão enfrentando. Faria elas se sentirem melhores acerca de si mesmas e desculparia sua inação e derrota. No entanto, para muitas pessoas em muitas partes do mundo esse tipo de sofrimento é bastante raro, e muitas vezes é até mesmo suave quando ocorre. Mesmo quando isso acontece, não devemos pensar que somos impotentes: “Eu lhes disse essas coisas para que em mim vocês tenham paz. Neste mundo vocês terão aflições; contudo, tenham ânimo! Eu venci o mundo” (João 16:33). Quando alguém enfrenta esse tipo de sofrimento, ele deve responder com fé e poder, e não com autopiedade.

Então, existe o tipo de sofrimento que vem da falta de fé. Embora alguns cristãos desejem frequentemente pensar que eles sofrem por causa da sua fé, muitos deles sofrem apenas porque não têm fé. Aqueles que pregam um evangelho do sofrimento quase sempre glorificam o tipo de sofrimento que vem quando não se têm fé e quando não agem. Eles têm em mente as circunstâncias comuns da vida que Deus nos ensina a superar pela fé. O povo de Israel não sofreu no deserto porque tinham fé. Eles experimentaram do sofrimento e prolongaram seu sofrimento porque eles não tiveram fé na promessa de Deus, e não lutaram pela bênção que lhes pertencia. Apenas Josué e Calebe tiveram fé, e eles foram os únicos daquela geração que entraram na terra que Deus os prometeu.

Os israelitas não sofreram por causa de perseguição, pois eles nem mesmo enfrentaram os seus inimigos. Eles nunca entraram na terra para conquistá-la. Os problemas que eles encontraram vieram do seu ambiente e de seus próprios corações, assim como os problemas que a maioria dos cristãos enfrenta hoje. Por mais que todo mundo odeie “culpar a vítima”, Deus sempre culpa a vítima se o homem é vítima de sua própria incredulidade. A pessoa sofre não porque não há qualquer promessa para a sua libertação, ou porque a promessa não é para essa vida. Há tantas promessas que parece que ninguém conhece todas elas, e essas promessas são para hoje, e hoje significa “Hoje” — nessa vida, agora mesmo (Hebreus 3:13).

Quando cristãos atribuem valor espiritual ao sofrimento que é desnecessário e inútil, eles insultam os cristãos que sofrem por perseguição genuína. Sua teologia é uma reformulação farisaica da narrativa de suas vidas, tornando-os em heróis que sofrem em vez de perdedores incrédulos. Devemos ter compaixão das pessoas que tem todos os tipos de sofrimento, mas ter compaixão para com a maioria dos tipos de sofrimento muitas vezes significa repreender duramente as pessoas por suas dúvidas e desculpas, e lhes dar o ensino apropriado para elas superarem a situação. Entregar-se a tristeza hipócrita de outras pessoas é improdutivo, e nos torna cúmplices de sua rebelião.

A exploração egoísta da doutrina da soberania divina tornou-se a ruína da teologia cristã. Isto é, quando os cristãos passeiam pelo deserto atribuindo todos os problemas que enfrentam à soberania de Deus. Aqueles que fazem isso não são qualificados para lidar com a doutrina, e a maioria dos cristãos que são obcecados com o abuso da doutrina fazem isso constantemente. Teólogos costumam causar mais danos do que edificação quando ensinam a doutrina. A soberania de Deus não implica em capricho de Deus. Capricho é infantil, desonesto, imprevisível. Deus não faz essas coisas. Sua soberania é consistente com sua fidelidade, compaixão e outros atributos. Ele mantém suas promessas, não porque ele é forçado a isso, mas porque ele decidiu sempre fazer isso. Quando ele mantém a sua palavra, ele está sendo fiel a si mesmo. Ele está fazendo conforme a sua própria natureza. Esta é a soberania divina.

A fé importa. A boca fala do que o coração está cheio (Mateus 12:34). Se uma pessoa continua a falar sobre suas lutas, suas doenças, seus sofrimentos, se ela insiste que sofre por causa da vontade de Deus, que está sendo afligida por causa disso ou daquilo, e se ela continua se recusando a receber a libertação pela fé na promessa divina, ou mesmo negando que essas promessas pertencem à sã doutrina, então ela irá ter o que ela diz. “Juro pelo meu nome, declara o SENHOR, que farei a vocês tudo o que pediram. Vocês sofrerão a consequência dos seus pecados e experimentarão a minha rejeição” (Números 14:28, 34).

Por esta razão, as doutrinas da incredulidade, como a falsa aplicação da soberania divina e da cessação de milagres e poderes correspondem à experiência que eles afirmam. Assim como eles rejeitaram a Deus, Deus os rejeitou. Deus irá fazê-los passear pelo deserto da vida até que todos eles apodreçam e morram na incredulidade. Eles dizem que a vida em Deus é assim? Eles dizem que não há milagres, cura, prosperidade, libertação e vitória? Deus vai se certificar de que eles nunca obtenham nada disso. A sua punição será que a sua doutrina se tornará verdade — para eles. Isso é o mínimo que eles merecem pelo fato de pisarem no sangue de Cristo várias vezes.

Em segundo lugar, Parã desmascara as pessoas que têm atrasado a igreja. Eles são os líderes que espalharam a incredulidade, e as pessoas acreditam nelas. Eles são pessoas que pregam um relatório negativo, uma teologia da incredulidade, da tradição e da cerimônia, e da cessação dos milagres, da cura, da profecia, e do poder da fé. Como Estêvão disse: “Povo rebelde, obstinado de coração e de ouvidos! Vocês são iguais aos seus antepassados: sempre resistem ao Espírito Santo!” (Atos 7:51).

A maioria dos teólogos cristãos, pregadores e crentes são como as pessoas no deserto de Parã. Eles não experimentam milagres e bênçãos não porque Deus não dá mais milagres e bênçãos, mas porque eles dizem que Deus não irá dar isso à eles, e então Deus lhes dá do que elas estão dizendo. Por maldade? Exatamente. Ele disse: “Já que vocês dizem que eu não estou fazendo todas essas coisas por vocês, agora vocês vão ver realmente o que é me ter contra vocês” (Números 14:34). Eles adoram por adorar, ostentando sua piedade e humildade, e até mesmo ensinam aos outros como viverem igual a eles, enquanto em todo esse tempo Deus está deixando-os apodrecer e morrer por causa da sua maldade nas coisas disseram sobre ele. Que vida miserável.

É por isso que eu digo que não há futuro em uma tradição ou herança que abraça a incredulidade. Pode continuar existindo, mas tudo nela se tornou vaidade. A geração de Parã viveu por mais de quarenta anos, mas eles estavam caminhando como cadáveres. Por essa razão, os cristãos devem se isolar de uma tradição ou herança como essa. Mesmo assim, eles podem não ser totalmente afetados. Deus disse ao povo que eles iriam vaguear por quarenta anos, e que seus filhos iriam ter que adiar a própria entrada na terra por causa deles. Ele disse que eles vão “sofrer pela infidelidade” (Números 14:33). Josué e Calebe foram os únicos da antiga geração que foram autorizados a entrar na terra, e até mesmo eles foram atrasados ​​por causa disso. As pessoas foram atrasadas como um grupo por causa da incredulidade dos líderes e daqueles que os seguiram.

A fé ainda pode vencer em uma situação como essa. Lembre-se do comentário anterior sobre a espiritualidade individual. As promessas de Deus tem duas dimensões — individual e corporativa. E as promessas de Deus tem duas aplicações — pessoal e missionária.

Vamos usar a cura como um exemplo. Por que eu enfrento ceticismo até mesmo entre os cristãos quando eu prego que Deus concede a cura para aqueles que têm fé? É porque outras pessoas estiveram disseminando incredulidade. Isso coloca uma resistência ao ministério que nunca deveria ter existido. Sem isso, eu poderia transmitir a mesma mensagem com menos esforço e ainda obter uma melhor recepção. O público também sofre. Se eles não fossem doutrinados com incredulidade, eles receberiam do básico imediatamente, e nós poderíamos passar para discutir o assunto num nível mais profundo ou para cobrir assuntos adicionais. Eu posso vencer a incredulidade das pessoas, mas é preciso mais trabalho, um esforço extra que não deveria ser necessário. Agora imagine esta situação não só com a cura, mas com tudo o que a Bíblia ensina — tudo. Assim, a incredulidade entre o povo pode impedir o progresso corporativo e missionário.

Por outro lado, pode-se permanecer imune aos efeitos da incredulidade corporativa em seu próprio progresso individual e bem-estar pessoal. Usando o mesmo exemplo, mesmo se os cristãos em geral estão cheios de incredulidade quando se trata da cura, quem tem fé ainda pode recebê-la diretamente de Deus. Vemos isso em Josué e Calebe. Apesar de terem sido atrasados por quarenta anos no sentido corporativo e missionário por causa da incredulidade de outras pessoas, eles ainda se beneficiaram da sua fé no nível individual e pessoal. Eles viveram mais que todos os outros da sua geração. Mais do que isso, eles permaneceram tão fortes que foram capazes de levar, em ambos os aspectos, o planejamento e o combate das campanhas militares. É um testemunho da cura e do poder renovador de Deus na mente e no corpo (Josué 1:6, 14:10-11). Mesmo que outras pessoas não tenham fé, eu ainda posso receber de Deus pela minha fé. Continue lutando por aquilo que pertence a você. Não permita que a desobediência corporativa venha impedi-lo em seu desenvolvimento individual. Recuse-se a ficar sob o tipo de sofrimento que vem de uma falta de fé. Recuse-se a recebê-lo. Glorifique a Deus ao receber suas promessas.

Quem são aqueles que ficam atrasando a igreja? Os liberais? Os fanáticos? Os anti-intelectuais? Eles podem sim ter feito algum dano, mas os críticos cristãos da fé são muito piores. Eles são aqueles que querem “apedrejar” as pessoas que gostam de Josué e Calebe (Números 14:10). Eles não têm fé para tomar posse do que Deus prometeu, e atacam aqueles que falam sobre fé e espalham um relatório positivo. Os piores culpados são os teólogos, pregadores e apologistas da incredulidade, e as pessoas que os seguem. O veredicto de Deus é que ele irá fazer com que vivam de acordo com o que dizem. Ele vai deixá-los apodrecer e morrer.

Hoje, se ouvirem a sua voz, não endureçam os corações de vocês. Renegue os mensageiros da incredulidade. Extermine-os! Extermine-os de sua vida diante de Deus, saia do meio deles, e deixe-os apodrecerem e morrerem em sua própria fossa de incredulidade, falsa piedade, e hipocrisia religiosa. “Portanto, esforcemo-nos por entrar nesse descanso, para que ninguém venha a cair, seguindo aquele exemplo de desobediência” (Hebreus 4:11). Eles ofereceram um relatório negativo, e Deus viu isso e eles experimentarem do que disseram. Josué e Calebe ofereceram um relatório positivo, um relatório de fé, e Deus viu isso e eles também experimentaram do que disseram. Assim, podemos ter sucesso na vida e no ministério, mesmo quando ninguém mais tenha, se apenas tivermos fé em Deus.
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Vincent Cheung. The Edge of Glorydisponível em Sermonettes - Volume 9pp. 83-82. Traduzido por Luan Tavares em 16/11/2018.
Nota: Todas as versões bíblicas são da Biblia Sagrada, Nova Versão Internacional ® NVI ® Copyright © 1993, 2000, 2011 by Biblica, Inc.®.
Sobre o autor: Vincent Cheung é um pregador e escritor cristão. Ele e sua esposa moram nos Estados Unidos.

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