A ÉTICA E A JUSTIFICAÇÃO SOMENTE PELA FÉ — John W. Robbins
Sabe, porém, isto: que nos últimos dias sobrevirão tempos trabalhosos; porque haverá homens amantes de si mesmos, avarentos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a pais e mães, ingratos, profanos, sem afeto natural, irreconciliáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, sem amor para com os bons, traidores, obstinados, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te. (2 Timóteo 3:1-5)
Uma vez foi comumente aceito que o certo e o errado devem ser julgados por algum padrão objetivo e absoluto. Mais de cem anos atrás, a sociedade começou a acreditar na evolução, em vez da criação divina. O próximo passo foi perfeitamente lógico e inevitável. Se Deus não é nosso criador, talvez ele não seja nosso juiz. O existencialismo, a ética situacional e o relativismo baseiam-se na premissa de que cada pessoa é o único juiz de suas crenças e ações e, portanto, não é responsável por nenhum padrão objetivo absoluto, externo e objetivo de sua conduta.
Os cristãos precisam estar especialmente conscientes de que esse mesmo espírito de desrespeito à lei floresce na igreja visível. Na lista de Paulo de pecados dos últimos dias, citada acima, o ônus não é mostrar o quão ruim o mundo será no tempo do fim. O apóstolo descreve as condições que existirão na igreja visível nos últimos dias (ou seja, entre aqueles que “têm aparência de piedade”).
Enquanto os liberais seculares falam do “eu responsável” e da “consciência social” no lugar da lei, os liberais teológicos falam do “amor cristão” e da “orientação do Espírito Santo” como substituindo a lei. É o mesmo tom, segundo verso. Os neo-evangélicos realizaram um ataque tão unilateral contra o “legalismo” que lei se tornou uma palavra suja. Sob a influência do liberalismo e do neo-evangelicalismo, o legalismo desenvolveu um novo significado. Costumava significar o uso errado da lei (como um meio de salvação), agora é frequentemente entendido como obediência consciente a regras de qualquer tipo. Como a sociedade está sendo inundada pela corrupção, ilegalidade, crime e podridão que desafiam a descrição, ela não precisa de incentivo da igreja visível para mostrar desrespeito à lei moral de Deus.
A Justificação Somente pela Fé e o Respeito pela Lei
Concordamos com J. Gresham Machen, que escreveu: “Pensamos que uma maneira de incentivar o respeito pela lei seria tornar a lei mais respeitável” (What Is Faith? p. 168). Como tornamos a lei mais respeitável?
Há alguns, sempre houve alguns — veja Romanos 9 — que estão prontos para culpar a justificação somente pela fé pela falta de ação ética na igreja. Eles acham que essa grande doutrina cristã precisa ser menosprezada, enquanto mais ênfase deve ser dada à santificação e à vida cristã prática. Esta é uma feliz eventualidade para Roma, que sempre sustentou que a doutrina de Lutero afrouxa as rédeas da restrição moral.O grande princípio da justificação somente pela fé da Reforma não é de forma alguma responsável por promover o desrespeito à lei. Esta é uma era que quase nada sabe sobre a doutrina da justificação somente pela fé. É impossível ser forte na justificação pela fé e fraco na ética. Justificação é um termo da lei. Não existem dois conceitos bíblicos mais intimamente relacionados do que justificação e lei. Honrar e defender a justificação é honrar e defender a lei (Romanos 3:31). Voltando à proposição de Machen, como podemos tornar a lei mais respeitável? Colocando a verdade da justificação de volta no centro da mensagem cristã onde ela pertence. Onde e quando essa verdade é exaltada e ensinada, o Espírito de Deus dá nova vida à igreja e equipa seus membros para “toda boa obra”.
O Temor de Deus, a Justificação e a Ética
A grande verdade bíblica da justificação somente pela fé não faz sentido a menos que seja vista no contexto do temor de Deus. A Bíblia diz que o temor de Deus é o princípio da sabedoria (Provérbios 9:10), o fundamento da piedade (Jó 1:8), o fim da obediência (Eclesiastes 12:13; Gênesis 22:11,12), a base de integridade ética (Gênesis 20:11; Provérbios 8:13; 16:6) e o fundamento da santificação (2 Coríntios 7:1). O Espírito Santo é chamado “o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR” (Isaías 11:2). Temer a Deus significa responder-lhe com respeito reverente, respeito humilde e profunda adoração. Essa atitude em relação a Deus vem de um entendimento vívido da majestade daquele que está constantemente em chamas de santidade, verdade e bondade, e da ira daquele cuja justiça é uma indignação ardente contra o pecado.
Sempre que os homens são ensinados sobre o temor do Senhor por um confronto com a justiça de Deus e suas reivindicações sobre suas vidas, eles são levados a clamar: “Como posso ser justo para com Deus?”. Eles não tomam como certo que Deus perdoa, mas eles estão tão impressionados com a justiça de Deus que sua própria consciência exige: “Como Deus pode me perdoar com justiça?”. Eles se sentem como Spurgeon, que exclamou: “Eu senti que não poderia ser perdoado a menos que pudesse ser perdoado com justiça”. Este é o grande problema que Paulo resolve para nós em sua mensagem aos Romanos — como Deus demonstra sua justiça na remissão de pecados (Romanos 3:25,26).
Quando olhamos para a cena religiosa atual, há pouca evidência de que as pessoas estejam fazendo perguntas teocêntricas (centradas em Deus). Em vez disso, elas estão fazendo perguntas antropocêntricas (centradas no homem): Como Deus pode me fazer feliz? Como Cristo pode fazer minha vida correr suave e com alegria? Como posso resolver meus problemas e encontrar satisfação na vida? Nunca houve tanta atividade religiosa tão desinteressada na questão da justificação para com Deus. Por quê? Porque há muito pouco temor de Deus. As pessoas podem balançar os braços ou pular para cima e para baixo “no Espírito”. Mas se o interesse religioso não é marcado por um grande temor de Deus, não é obra do Espírito Santo, pois ele é “o Espírito de temor do Senhor”. Novamente, por que existe um desinteresse tão terrível na justificação pela fé? Porque as pessoas estão tomando como garantido que Deus é misericordioso e perdoador. De fato, elas sentem que estão em um relacionamento com ele tão bom que falam com ele como se ele fosse (para usar a queixa de Lutero contra os Entusiastas) “um aprendiz de sapateiro”. Como justificação pode ser uma preocupação quando não há temor de Deus visível?
Considere como essas perguntas centradas no homem são patentemente tolas à luz da situação do homem. Aqui está um pecador miserável, com mãos e pés amarrados e entregue ao inferno por seus grandes crimes contra seu criador. Parado no limiar da condenação eterna, ele presume perguntar: “Como Deus pode me fazer feliz?”. Tal pergunta mostra que ele não entende sua terrível situação. Se o Espírito lhe der uma verdadeira iluminação de sua situação, ele clama: “Como posso estar bem com Deus?”.
Não estamos sugerindo que Deus seja indiferente à felicidade terrena de seus filhos. Mas não encontramos felicidade ao tentar usar Deus como se ele fosse nosso lacaio. Em nenhum lugar encontramos alegria genuína e exultante como em Romanos 5 e 8. Essa alegria santa e sagrada chega ao homem que, por causa de Cristo, encontrou justificação nas mãos de um Deus justo e misericordioso. Esse homem está pronto para seguir a Cristo em qualquer lugar, fazer qualquer sacrifício, cumprir qualquer dever, obedecer a qualquer mandamento e ter tudo isso como um “culto racional” de um “servo inútil”. Ele não aceita seu perdão como garantido ou começa a andar diante de Deus com familiaridade irreverente. Imagine dizer ao homem que escreveu Romanos: “Paulo, aceito sua doutrina da justificação somente pela fé. Mas você pode me dizer como minha vida pode ser vitalizada com alegria cristã?”. Com um golpe da Palavra, o apóstolo diria: “Bem-aventurados aqueles cujas maldades são perdoadas, e cujos pecados são cobertos. Bem-aventurado o homem a quem o Senhor não imputa o pecado”; “… também nos gloriamos em Deus por nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a reconciliação” (Romanos 4:7,8; 5:11). Entender justificação sem alegria no Espírito Santo é impensável.
A mensagem da justificação somente pela graça, somente por causa de Cristo, somente pela fé é a melodia mais doce e alegre que pode chegar ao coração humano. Então, por que as pessoas correm para encontrar “o Espírito” em uma “segunda bênção”, línguas ou algum guru ou celebridade? É porque o temor de Deus é o único grande ingrediente que falta na cena religiosa atual e, portanto, a verdade da justificação não é apreciada como dom do Espírito.
O Novo Testamento ensina o temor de Deus tanto quanto o Antigo Testamento. Lucas descreve a igreja como “andando no temor do Senhor” (Atos 9:31). O escritor para os cristãos hebreus exorta os crentes a não “recuarem” e acharem que “Horrenda coisa é cair nas mãos do Deus vivo” (Hebreus 10:38, 31). E Paulo exorta os cristãos gentios: “Não te ensoberbeças, mas teme. Porque, se Deus não poupou os ramos naturais, teme que te não poupe a ti também” (Romanos 11:20,21).
Deus não é uma figura popular com a qual os pecadores podem confraternizar em seu próprio nível. Ele é tão exaltado, tão santo, que não pode ter comunhão direta com ninguém, exceto Jesus Cristo. Ele aceitará somente Cristo, e somente a justiça de Cristo o torna propício para conosco. Que o mais santo possa fugir de seu trono com pavor e terror, a não ser que ele continue olhando para o seu Substituto à direita de Deus e continue crendo nas boas novas de que ele é justificado aos olhos de Deus apenas porque Jesus está ali, no lugar dele e por ele. Esta é a única atmosfera na qual o cristão continua a viver e respirar. Esse cristão nunca verá o pecado como se fosse tão inofensivo quanto uma brincadeira de domingo à tarde.
Em resumo, duas coisas pertencem uma à outra — o temor de Deus e a ética cristã — exatamente como Salomão declara: “Teme a Deus e guarda os seus mandamentos; porque este é o dever de todo homem” (Eclesiastes 12:13). E o último livro da Bíblia declara: “Temei a Deus e dai-lhe glória, porque vinda é a hora do seu juízo. E adorai aquele que fez o céu, e a terra” (Apocalipse 14:7).
A Satisfação, a Justificação e a Ética
Paulo não escreveu o livro de Romanos apenas para nos dizer que Deus está disposto a perdoar. O Antigo Testamento já havia deixado isso bem claro. Ele também não escreveu Romanos apenas para nos dizer que deveríamos viver confiando na misericórdia de Deus. O Antigo Testamento era claro o suficiente sobre isso também. A questão central com a qual a epístola lida é a seguinte: Como o Deus da lei e da justiça perdoa o pecado? Como o governador moral do universo pode justificar as pessoas que merecem ser condenadas? É importante ver que o tema de Romanos, portanto, não é meramente a justificação dos pecadores, mas a justificação de Deus em sua justificação dos pecadores.
A justiça de Deus ao passar pelos pecados era prefigurada em tipos e sombras da antiga dispensação. Os profetas que “profetizaram da graça” que viria “inquiriram e trataram diligentemente” a resposta de Deus ao problema do pecado (1 Pedro 1:10,11). Deus se revelou como gracioso e perdoador. Ele passou os pecados dos tempos de Israel várias vezes. Ele ignorou os pecados de Davi sem infligir-lhe o que a justiça exigia. Ele até perdoou os pecados de Manassés, que encheram Jerusalém do sangue dos santos de Deus. Como tudo isso é consistente com a justiça? O juiz supremo trata sua lei como um mero regulamento a ser modificado, relaxado ou deixado de lado por prazer? O juiz não deve defender a lei, independentemente de qualquer pessoa? Podemos até dizer que a passagem de Deus pelos pecados dos homens pode parecer momentos de fraca leniência por parte do grande juiz, e, portanto, seu ato de perdão pode parecer um escândalo contra o governo divino.
Então o próprio Deus responde na santa ira que caiu sobre a pessoa de Cristo. Nunca a Terra ou o Céu contemplaram uma demonstração de terrível e santa justiça, como quando Deus não poupou seu único Filho. Então, Paulo aponta para a cruz de Cristo e declara:
Deus o ofereceu como sacrifício para propiciação mediante a fé, pelo seu sangue, demonstrando a sua justiça. Em sua tolerância, havia deixado impunes os pecados anteriormente cometidos; mas, no presente, demonstrou a sua justiça, a fim de ser justo e justificador daquele que tem fé em Jesus. (Romanos 3:25,26 NVI).
Há quem pense que o perdão dos pecados provém de uma benevolência descontraída. Consequentemente, eles também são indiferentes ao pecado, dizendo em seus corações: “Há muito perdão no Senhor”. Outros propõem que Cristo morreu apenas para nos mostrar que Deus perdoará nossos pecados e bondosamente os ignorará. Tais pensamentos sentimentais do Calvário lhes permitem pecar com uma consciência tranquila. Depois, há quem veja a expiação como uma manobra hábil da parte de Deus para “contornar sua lei”. Então por que eles não deveriam também passar a vida contornando a lei?
A doutrina bíblica da satisfação da lei de Deus sustenta toda a ética cristã. Ela nos mostra que Deus não estava apenas provendo a justificação dos pecadores, mas a justificação de sua ordem moral no universo. Ela nos mostra que a lei e o governo divinos devem ser mantidos e justificados. O Calvário foi a maior honra que o próprio Deus poderia pagar à sua lei. A profecia havia declarado a respeito de Cristo: Ele “tornará grande e gloriosa a sua lei” (Isaías 42:21). A lei de Deus nunca foi mais altamente honrada do que quando Cristo estava diante do obstáculo da justiça para satisfazer o dano causado. Lutero declarou: “Agora, embora por pura graça Deus não imputa nossos pecados, ele não quis fazer isso até que uma completa e ampla satisfação de sua lei e de sua justiça tivesse sido feita”. Carl Henry escreveu em Personal Christian Ethics: “A cruz é o centro do universo moral, revelando a absoluta recusa de Deus em cancelar sua lei da santidade”.
Fé, Justificação e Ética
Agora devemos considerar a natureza e a ação da fé na justificação do pecador. A fé é a raiz de toda boa obra, a árvore que floresce e produz uma colheita de ação ética. Deus cuida das boas obras e da honra de sua lei. Sua natureza santa exige uma justiça que se adapte aos seus mandamentos, sem variabilidade ou sombra de mudança. Paulo declara: “Os que praticam a lei hão de ser justificados” (Romanos 2:13). A perfeita obediência à sua lei é a única condição sobre a qual Deus dará vida eterna a qualquer homem (Mateus 19:17). Como Lutero disse: “A lei deve ser cumprida para que nenhum jota ou til seja perdido; caso contrário, o homem será condenado sem esperança”.
A boa nova do evangelho é que Cristo viveu esta vida de perfeita obediência. Ele cumpriu as condições sob as quais Deus justificará seu povo. Jesus viveu esta vida em nosso nome e em nosso benefício. É por isso que o apóstolo diz que somos justificados por Cristo (Gálatas 3:17), por sua obediência (Romanos 5:18,19). Portanto, é perfeitamente verdade dizer que a causa meritória de nossa justificação é uma vida de boas obras — não a nossa, é claro, mas a de Cristo. Enquanto a morte de Jesus (sua obediência passiva) é a base sobre a qual Deus perdoa o pecado, a vida de Jesus (sua obediência ativa) é a base sobre a qual Deus pode nos imputar uma vida de perfeita obediência. Precisamos ouvir mais sobre a natureza redentora da vida de Cristo, pois é isso que cumpre a lei e nos dá o direito à vida eterna.
Deus não nos justifica por causa de nossa fé — como se a fé tivesse algum valor redentor. Deus também não aceita agora a fé, em vez de perfeita obediência à sua lei. (Esse é o erro do neonomianismo, que diz que Cristo morreu para mudar as condições, para tornar possível a Deus impor um padrão mais fácil.) A fé não é a causa meritória da justificação, mas apenas a causa instrumental. Pela fé um pecador responde positivamente — concorda — com a oferta de salvação de Deus. A justiça reconhece que esta vida, que o pecador agora aceita como dele, satisfaz as exigências da lei, e Deus o declara justificado.
Os reformadores viram claramente que a lei moral de Deus tem três usos:
a) Primeiro uso — restringir o pecado na sociedade;
b) Segundo uso — apontar o pecado e levar o pecador a Cristo;
c) Terceiro uso — ser uma regra de vida para os cristãos.
Nos últimos cem anos, tornou-se bastante popular rejeitar todos os três usos da lei. Isso é antinomianismo. Ela mina toda a estrutura da ética cristã, destrói todo o conteúdo legal da justificação pela fé e trai a causa da Reforma.
Quando dizemos que o cristão não está sob a obrigação da lei, é melhor esclarecer que entendemos a obrigação de satisfazer suas reivindicações de perfeita justiça e não a obrigação de obedecê-la como regra de vida. Mas muitos não fazem essa distinção. O crente justificado tem alguma relação com a lei? A satisfação deve ser para nós um lembrete constante da hediondez não aliviado de violar a lei de Deus. A liberdade de justificação somente pela fé é a liberdade de obedecer, o privilégio de obedecer a uma lei tão real, tão santa (Romanos 7:6, 12, 25; Tiago 2:10). Longe de não estar sob a obrigação de guardar a lei, o amor nos coloca sob a dupla obrigação de guardá-la.
Existem pelo menos quatro tipos de ensino que abrem a porta ao antinomianismo:
a) Tornar a Graça Antagônica à Lei. Os reformadores fizeram uma distinção nítida entre a lei e o evangelho, mas tiveram o cuidado de escrever em todas as grandes confissões de que a lei moral de Deus sempre permanece válida como regra de vida para os crentes. Porém, nos últimos cem anos, desenvolveu-se um tipo de ensino que coloca a lei moral em oposição à graça e descarta o conceito do terceiro uso da lei.
b) Entusiasmo. Por “entusiasmo”, não queremos dizer fanatismo religioso que faz com que as pessoas pulem para cima e para baixo em êxtase espiritual. “Entusiasmo” é um ensinamento que reivindica orientação direta do Espírito Santo, à parte da Palavra de Deus escrita. Em vez de bons ensinamentos sobre o uso adequado da lei, muitos hoje consideram que o Espírito Santo habita neles e lhes diz o que fazer à parte de qualquer ensino da lei. Lutero teve que enfrentar esse erro daqueles a quem chamou de “Entusiastas”. O reformador viu que o erro básico deles era fazer uma separação perigosa da Palavra e do Espírito. Lutero e Calvino tiveram que sustentar que o Espírito Santo opera na Palavra e nunca à parte da Palavra. A única maneira de ouvir o Espírito Santo falar conosco é ouvir a Palavra, e a única maneira de obedecer ao Espírito é obedecer esta Palavra objetiva de Deus. Não devemos ter nenhuma noção de que podemos receber uma palavra particular do Senhor. Os carismáticos que reivindicam visões, revelações particulares e informações diretas de Deus estão apenas levando o que tem sido uma noção popular a seu fim lógico. Sob o pretexto de honrar o Espírito Santo, as vozes internas do entusiasta substituem a norma absoluta da lei moral de Deus.
c) Quietismo. Quietismo é o ensinamento de que a vida cristã é vivida sendo um canal passivo para a operação do Espírito Santo. Diz-se que a vida vitoriosa é vivida quando o crente para de tentar e deixa Deus fazer tudo (“Deixe Deus agir”). O erro do quietismo é que ele tende a tornar substitutiva a obra do Espírito Santo no coração. Este é o resultado de um enfoque inadequado nos grandes fatos da obra substitutiva de Cristo. A obra que Cristo fez na vida e na morte era substitutiva — foi em nosso lugar. A justificação vem da aceitação passiva do que foi feito na cruz, à parte de qualquer esforço nosso. Mas o mesmo não pode ser dito sobre a obra interior e santificadora do Espírito. O Espírito não substitui o esforço humano. Ele não substitui a obediência humana. A vida cristã não é uma questão de abster-se do esforço, enquanto o Espírito faz tudo. A vida cristã é uma luta, uma corrida, uma luta; e o Espírito desperta o crente e o equipa para a guerra santa. A fé não é um ópio, mas um estimulante. Não nos compõe a dormir, mas a agir.
A justificação é possuída apenas pela fé. Quem não tem fé não tem justificação. A fé salvadora é a fé em Cristo e sua obra, não em alguma experiência pessoal de novo nascimento. Existe uma doutrina popular que diz que um homem pode ser salvo eternamente, crendo ou não. Mas a crença não é opcional. Quem não obedece, não crê, e quem não crê, não será salvo. As igrejas estão cheias de almas espiritualmente mortas que dormem em seus pecados; no entanto, eles se contentam em serem salvos por causa de alguma experiência passada. Eles têm fé em sua experiência; eles não têm fé no Evangelho.
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Traduzido por Luan Tavares em 26/08/2019. A menos que haja outra indicação, a versão usada na tradução foi a ARC — Almeida Revista e Corrigida.
Sobre o autor:
Dr. John W. Robbins foi um residente do condado de Unicoi, Tennessee. Nascido e criado na Pensilvânia, ele recebeu seu A. B. do Grove City College (Pensilvânia) em 1969, cum laude, com formação em Ciência Política. Ele prosseguiu nos estudos de pós-graduação na Universidade Johns Hopkins (Maryland), ganhando seu mestrado em Teoria Política (1970) aos 21 anos, e seu doutorado em Filosofia e Teoria Política (1973) aos 24 anos.
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